Voluntário: qualquer trabalho, ação, movimento, reação biológica ou
atitude que se inicia e se desdobra por vontade própria, orgânica, fluida, e
não imposta, forçada ou comprada.
Agora pela outra perspectiva da história, aos olhos de um não-voluntário, a pergunta é: o que faz
a coisa toda do voluntariado existir? O que acontece internamente com alguém
que se voluntaria a qualquer causa ou propósito sem que haja qualquer remuneração para tal empenho?
O que faz com que o tão escasso e precioso tempo seja doado assim,
de graça?
As razões são diversas, improváveis, delicadas, na maioria das vezes tão
sutis que passam despercebidas e são difíceis de explicar com alguma racionalidade. Mas elas existem e são sempre a força
propulsora de tal entrega. Portanto esse “de graça” pode ser sim, financeiramente
gratuito, mas é riquíssimo em outros ganhos não monetários, mas sim afetivos.
Já conheci graças à AMPARA e as causas animais, voluntárias que eram
motivadas por terem amor demais a doar, portanto sua entrega lhes rende aquela
paz no coração que só quem ama de verdade sabe o que é. A sensação de amor correspondido, tão rara e tão sonhada.
Outras voluntárias se entregam graças a sua preocupação real e ativa
com a saúde pública presente e o legado futuro que deixarão ao planeta. O que ganham? A sensação de
dever cumprido com uma causa que lhes molesta. Estas, talvez mais racionais, de forma alguma deixam de ser extremamente passionais ao se manterem empenhadas e dedicadas num esforço que, acreditem, muitas vezes parece maior que o que podemos administrar.
Algumas integrantes, percebo que se doam à causa por tantas vezes terem
sido privadas de amor pleno, por terem sido negligenciadas de amor, e por isso saberem da relevância de tal cuidado e por isso os estendem aos animais. Ganham ao descobrir nos bichos uma troca real, densa e recíproca.
Já fui eu mesma voluntária com participação bem mais ativa, mas que
simplesmente não consegui equilibrar a balança da vida cotidiana, filho, casa, "filhocachorro",
marido, empresa e pepinos cotidianos. Percebi que meu tempo já consumia o tal
“reservatório morto” e portanto, para conseguir erguer minha empresa teria que
abrir mão desta doação de tempo e atenção da parte administrativa e logística
da AMPARA.
Me via presa na labuta de produtora gráfica pensando "como elas
conseguem?".
Até hoje não sei, confesso.
A AMPARA funciona num ritmo de locomotiva. Há um exército
prioritariamente feminino que vira noite, vai à reunião conseguir patrocínio e
apoio, distribui ração, organiza feira de adoção e tudo isso paralelamente às
suas vidas “reais”.
Sei o sentimento que as move mas desconheço esse dom organizacional
de se doar quando o dia já parece começar atrasado e a vida cobrando as
pendências retroativas.
Aos poucos fui entendendo a matemática que
resulta num verdadeiro voluntário, que vê numa causa um propósito maior e
apaixonante: é preciso ser alguém que de fato não espera qualquer redenção
nessa doação de si próprio. É preciso ser alguém, mais do que tudo, extremamente
organizado. E o mais importante: É preciso ser alguém que
se conheça o bastante para saber o que tem de melhor em si para doar.
Pode ser tempo. Pode ser colocando mesmo a mão
na massa, como nossas veterinárias fazem. Pode ser conhecimento sobre finanças
(afinal de contas, um grupo com dinheiro desorganizado jamais alcançaria a
grandeza da AMPARA). Pode ser doando sua imagem pública, como tantos atores
queridos fazem sem titubear, e o que, sem dúvidas nos fez ganhar a visibilidade
merecida pela causa. Pode ser organizando um evento. Ou incentivando um amigo a
não comprar, mas sim adotar. Pode ser resgatando um, um animal que seja. Ou,
por que não?, financeiramente, se esta for a competência e diferencial de
alguém bem intencionado?
Todos os movimentos proativos são igualmente
nobres porque de fato não são trocados por moeda corrente, mas sim por
combustível para a alma.
Eu descobri o que me cabia como voluntária:
escrever. É o que amo fazer. É o que me da prazer. E é o que sinto conseguir
oferecer para, de alguma forma, contribuir.
Todos têm uma forma a contribuir, seja para a
causa que for, da forma que puder.
Não faltam causas e tampouco quem anseie por
ajuda.
E você - se o fizer da forma certa, definitivamente não ganhará dinheiro com
isso, afinal de contas, quando o assunto é passionalidade e sentimentos muito
mais profundos, dinheiro se torna característica secundaria.
Portanto o que sugiro ao longo dessas palavras doadas:
se doe. O seu melhor. O excedente de suas mais nobres virtudes. O que não lhe exige aquele esforço sobre-humano para aprender ou se envolver. Se doe à causa que for, como puder.
Acredite: o mundo precisa de
pulsos-firmes e também passionais, e você vai descobrir o bem que faz fazer o bem.
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